sexta-feira, 27 de março de 2009

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

NOTA: 9,5

Assisti ao filme há pelo menos três semanas. Mas não encontrava tempo pra argumentar à altura das críticas que em geral, estão bem duras. “Maniqueísta, oportunista, apelativo à estética da pobreza, esquemático, plágio de Cidade de Deus”...são algumas coisas que li mesmo entre meus críticos favoritos.

Inácio Araújo, crítico e blogueiro do UOL Cinema faz uma pergunta em seu blog: Por que as pessoas saem do cinema no meio do filme? E responde: “…a pessoa sai do cinema por duas razões: ou porque o repertório lhe parece muito batido ou porque ele se sente perdido diante do que vê. São espectadores diferentes. Fazendo uma comparação provavelmente ruim, eu disse que quem só ouve pagode, quando escuta Beethoven aquilo lhe parece inaudível. Do mesmo modo, quem escuta Beethoven o tempo todo não vê no pagode senão cacofonia.(…) Me parece que, hoje, o cinema tornou-se uma diversão de fim de semana. Quem vai, depois de apanhar de segunda a sexta, quer um pouco de sossego, quer encontrar coisas estabelecidas, espiões que espionam, vilões que fazem vilanias, etc. e tal. Então, quando a pessoa cai diante de um filme do Laurent Cantet, do Kiarostami, do Oliveira, do Godard, enfim.., ela não admite que, às vezes, é preciso um pouco de sacrifício para gostar de uma coisa. (…) Acrescente-se ainda: hoje a crítica está desmoralizada (vamos falar disso outro dia). Para que servem os críticos? Para nada: o que conta na distribuição do filme é a publicidade (sempre foi assim, mas antes havia certa convivência).

Ótima resposta. Mas e se invertermos esta flecha? Os quatro últimos vencedores do Oscar de Melhor Filme: Onde os fracos não tem vez, Os Infiltrados, Crash e Menina de Ouro exploravam a angústia e o questionamento individual dos personagens, provocando fortes e desgastantes viagens internas. Coincidência ou não, nenhum deles se rendeu a um final literalmente feliz. Listei estes filmes apenas como representantes “oscarizados” de uma tendência que exige mais dos espectadores e por isso, agrada à crítica. Agrada e a acostuma. Porque bastou que uma fábula onde tudo dá certo no final conquistasse o mundo para que toda sorte de opiniões vociferasse contra “Quem quer ser um milionário?”. A questão é que adorei o filme. Terminei a sessão com um sorriso estampado no rosto e o coração cheio de esperança. Parece piegas? E desde quando angústia, revolta e desconforto são sentimentos mais nobres? Sem dúvida são importantes, motivam a mudança de comportamento. Mas parecem condicionantes para que os críticos aceitem e indiquem um filme. Estão viciados. “Quem quer ser um milionário” causa uma revolução ao conquistar prêmios por onde passou e abrir as portas novamente para o final feliz.
ESPAÇO
Jamal Malik (Dev Patel) tem 18 anos de idade, vem de uma família das favelas de Mumbai, Índia, e está prestes a experimentar um dos dias mais importantes de sua vida. Visto por toda a população indiana, Jamal está a apenas uma pergunta de conquistar o prêmio de 20 milhões de rupias numa espécie de versão indiana do Show do Milhão. No entanto, no auge do programa, a polícia o prende por suspeita de fraude.

Numa tentativa de provar a sua inocência, Jamal conta aos policiais sua difícil vida nas ruas, as aventuras com o seu irmão, e o seu seu amor perdido, Latika. As perguntas mais importantes são: "O que faz um rapaz sem interesse no dinheiro num concurso televisivo? E como ele sabe todas as respostas?"

Com as lições que a vida lhe deu. Num esquema às vezes cansativo em que cada pergunta do programa vem seguida de um flashback com a vida de Jamal, algum detalhe guardado na memória sempre lhe dá resposta. Parece forçado? Mas seria impossível não se lembrar da morte da mãe, a orfandade, o sectarismo religioso, a exploração de menores, o crime organizado, a distância do amor, e até um mergulho numa fossa nojenta (desculpe, mas eu prefiro enfrentar os outros problemas).

É esta relação de sofrimento x recompensa que torna o filme tão prazeroso. Contra cada experiência dolorosa, Jamal merece mais alguns milhares de rúpias, e mais uma chance de ficar com sua amada. É para ser visto por ela que ele está no programa. E na tentativa de convencer o policial, ele (o roteiro) tenta nos convencer de que aquilo é possível. Pra alguns pode não ser, mas basta um pouquinho de esforço, o mesmo que os críticos exigem para um diretor Kustuwriqweri da vida, e aceitaremos o improvável, já que na vida “real”, as experiências mais inesquecíveis são exatamente assim.

PS: (não leia se não viu o filme) A dramaturgia insiste em temas onde a felicidade não pode ser plena e sempre temos que fazer escolhas e sacrifícios. “Quem quer ser um milionário?” parecia caminhar justamente pra isso e confesso que se pra ficar com Latika, Jamal tivesse que perder o dinheiro, minha opinião teria sido bem diferente. Resultado? Ele ganha os milhões, ganha a garota e ainda nos deixa “felizes para sempre”. Pelo menos até um próximo Totsqwelkrjqewlk da vida.
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