Depois eu olho.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

INTRIGAS DE ESTADO

NOTA: 7,0
Título Original: State of play
Direção: Kevin Macdonald
Roteiro: Tony Gilroy, Matthew Michael Carnahan
ESPAÇO

Chegou atrasado. Esta é a sensação com este “Intrigas de Estado”, thriller político que ‘denuncia’ o monopólio, a corrupção e o comércio por trás da segurança nacional americana. O título do filme já foi mote de infindas produções para o cinema, ainda mais em tempos de responsabilidade social e ambiental. Então como mais um exemplar do gênero, não é um filme ruim, mas prejudicado pela pouca novidade e relevância que acredita ter já que o auge do clima conspiratório foi patenteado por Michael Moore em 2004, com Fahrenheit 11 de Setembro.
ESPAÇO
Com excesso de cortes rápidos e irregulares e muita câmera tremida, o diretor Kevin Macdonald (O último Rei da Escócia) sugere um constante tom de urgência e desconforto. Mas, como disse, é apenas uma sugestão já que o público nem sempre a acata. E é uma pena perceber que isto é fruto da direção nem sempre acertada que, apesar de contar com um bom roteiro em mãos, prejudica seus personagens com um ritmo supostamente frenético, mas que se torna arrastado com o pouco valor dado às relações humanas, cerne da história. Tratando justamente da relação entre amizade, carreira, mentiras e verdades, o filme não permite que nos aprofundemos nas convicções de nenhum personagem. Isso é grave, pois uma obra que ensaia sobre a importância da verdade não consegue o básico: fazer que nos importemos também.
ESPAÇO
VOCÊ NEM VAI PISCAR se acredita na teoria da conspiração.
ESPAÇO
É MELHOR VOCÊ DORMIR se já está cansado da teoria da conspiração.
ESPAÇO
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O CONTADOR DE HISTÓRIAS

NOTA: 7,5
Título Original: O Contador de Histórias
Direção: Luiz Villaça
Roteiro: José Roberto Torero, Maurício Arruda, Mariana Veríssimo, Luiz Villaça
ESPAÇO
Assisti a uma entrevista de Roberto Carlos Ramos no Jô Soares há alguns anos e me lembro que fiquei encantado com sua história de superação e, ao mesmo tempo, envergonhado pela minha intolerância com jovens criminosos. Recordei-me disso ao assistir este belo “O Contador de Histórias”, mas desta vez com outro sentimento: esperança.
ESPAÇO
Roberto é um interno da FEBEM declarado irrecuperável, que encontra na pedagoga francesa Margherit a abnegação e o amor incondicional que não fomos educados pra ter. Por isso, em algumas passagens, soam forçadas e folhetinescas as atitudes da personagem, se esta não fosse uma pessoa real.

Somos educados a condenar e corrigir os pontos fracos. Para estimular os pontos fortes é preciso um pouco de imaginação e talvez exija demais do ser humano, neste caso, espectador. É esta imaginação em potencial que faz de Roberto o contraponto entre a realidade de nosso sistema estúpido e a capacidade da mente humana que poucos se propõem a usar em favor do próximo. Margherit o fez e transformou mais uma provável vítima da violência num internacionalmente premiado pedagogo e contador de histórias. Esta característica justifica a escolha do roteiro e direção em abusarem das narrativas, num desnecessário excesso de texto que explica demais. Sim, Roberto é o contador de sua própria história. Mas se precisamos estimular a sociedade a imaginar mais, poderiam ter deixado um pouco para o próprio público concluir.
ESPAÇO

VOCÊ NEM VAI PISCAR se acredita no poder da imaginação
ESPAÇO
É MELHOR VOCÊ DORMIR se não aprecia filmes com narração
ESPAÇO
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ARRASTE-ME PARA O INFERNO

NOTA: 100...NOÇÃO
Título Original: Drag Me to Hell
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Sam Raimi, Ivan Raimi



O humor negro, dizem, é uma característica das pessoas inteligentes. E entendê-lo, também. Por isso, questionei a minha própria capacidade intelectual quando vi vários críticos que admiro elogiarem este “Arraste-me para o inferno” como um excelente exemplar do gênero. Bom, o filme é um amontoado de gags visuais e uma chuva de fluídos corpóreos na intenção de hora assustarem, hora fazerem rir e hora enojarem. Com exceção de bons sustos, frutos de um eficiente trabalho de câmera e efeitos sonoros ensurdecedores, Sam Raimi (da franquia O Homem-Aranha) que assina roteiro e direção do longa, não consegue nenhum de seus objetivos. É fácil perceber que o diretor se divertiu horrores (sem trocadilhos) misturando gêneros, ângulos e cortes. Em alguns momentos estamos vendo um filme assustador, em outros os clichês de uma comédia romântica, um pouco de cartoon network e algumas homenagens a clássicos do humor negro como “Os Fantasmas se divertem”. É aí que está a diferença. A obra de Tim Burton é um humor negro assumido, mas envolvido por uma atmosfera fantasiosa que torna aceitáveis e divertidas todas as loucuras que vemos na tela. Neste “Arraste-me para o inferno” não há construção de atmosfera mas uma salada de gêneros que se torna indigesta e não permite que o filme diga a que veio. E nem o que eu fui fazer naquela sala de cinema.
ESPAÇO
:) VOCÊ NEM VAI PISCAR se quiser tomar alguns sustos.
ESPAÇO
;( É MELHOR VOCÊ DORMIR se espera inteligência de um humor negro.
ESPAÇO
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

G.I.JOE: A ORIGEM DE COBRA

NOTA: 4,0
Título Original: G.I. Joe: Rise of Cobra
Direção: Stephen Sommers
Roteiro: Stuart Beattie, David Elliot, Paul Lovett

Numa recente visita ao Museu da Língua da Portuguesa, em São Paulo, li uma frase que dizia: “O cinema falado inventou o silêncio”. Peço desculpas pela irresponsabilidade de não ter anotado o autor, mas o pensamento resume exatamente o que filmes como “Transformers” e este seu parente próximo “G.I. Joe” representam: muito barulho, sem nada a dizer.
ESPAÇO
Para os brasileiros que cresceram na década de 80, G.I. Joe é o título original dos bonecos que por aqui ficaram conhecidos como “Comandos em Ação”. Só que as crianças daquela época cresceram e, ao que parece, roteiristas e diretor não se lembraram disso. O filme é um amontoado de efeitos visuais que em nenhum momento se preocupam em esconder sua origem computadorizada. E é só. Os personagens são caricaturas de outros tantos que estamos cansados de ver em filmes do gênero, unidimensionais e sem desenvolvimento. Não estou cobrando complexidade freudiana, mas o título “filme de ação” não impede a construção de uma boa história com bons personagens, porque no fim das contas, são estes dois fatores que conquistam o interesse do público. Pra que o público se importe com o que está acontecendo na tela, precisa se importar com os seres humanos envolvidos na história. Aqui, isso não acontece. Por isso, só assista G.I. Joe se gostar de poluição visual e sonora. Caso contrário, fique em casa, porque não vai dar nem pra cochilar com tanto barulho. (Num parêntese de desabafo, gostaria de dar dicas mais “instrutivas”, no entanto a já pouca oferta dos cinemas em Uberaba ainda se rende aos títulos mais mercenários e vazios das distribuidoras. Uma pena).
ESPAÇO
VOCÊ NEM VAI PISCAR se gosta de muito barulho e pouca conversa.
ESPAÇO
É MELHOR VOCÊ DORMIR se não gosta que abusem da sua inteligência.
ESPAÇO
Por Gustavo Mineiro
Publicitário e palpiteiro em cinema.

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domingo, 2 de agosto de 2009

A PROPOSTA

NOTA: 6,0
Título Original: Proposal, The
Direção: Anne Fletcher
Roteiro: Peter Chiarelli
Elenco: Sandra Bullock, Ryan Reynolds, Betty White

Sandra Bullock encontrou em “Miss Simpatia” o alter ego de sua carreira. Especializada em oferecer entretenimento leve, a atriz de 45 anos soube como poucos tornar-se uma presença sempre agradável e conquistar um preconceito às avessas, onde qualquer uma das obras em que participa seja previamente aceita pelo público. Isso se deve, claro, à personalidade cativante que a alçou ao posto de namoradinha da América, há alguns anos. Mas principalmente, às fórmulas fáceis e recheadas de clichês testados e aprovados pelo público que sempre vemos em seus filmes. Neste “A proposta” não é diferente. Ela é Margaret Tate, canadense e chefe ‘carrasca’ de uma editora de livros que obriga seu secretário Andrew (Ryan Reynolds) a fingir um casamento pra que ela consiga o visto de permanência nos Estados Unidos. Desse amor improvável nasce uma previsível atração que os levará a uma lição sobre o verdadeiro amor.
ESPAÇO
O destaque é Betty White que fazendo a avó de Andrew é o oráculo do casal, representando a experiência de vida que sabe o que é importante e ignora o orgulho dos jovens. Sim, é mais uma comédia romântica descartável, mas que diverte enquanto dura a pipoca.
ESPAÇO
:) VOCÊ NEM VAI PISCAR se quiser ver os astros pelados.
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;( É MELHOR VOCÊ DORMIR se está cansado de comédias românticas descartáveis.
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Por Gustavo Mineiro
Publicitário e palpiteiro em cinema.
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

NOTA: 7,0
Título Original: Harry Potter and the Half-Blood Prince
Direção: David Yates
Roteiro: Steven Kloves

O fenômeno de J.K. Rowling está realmente chegando ao fim. É isso que prenuncia o 6º filme da série que funciona mais como um primeiro capítulo da sequência final.
ESPAÇO
Deixando qualquer vestígio da fascinação mágica e em certos momentos infantil dos filmes anteriores, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” investe pesado no clima tenso e desesperado que toma conta de Hogwarts após o retorno confirmado do Lord Voldemort. E é neste ponto que a obra deixa a magia em segundo plano em favorecimento da angústia, as dúvidas e a humanidade de cada personagem. Isto se encaixa perfeitamente aos hormônios em ebulição dos adolescentes que começam a desvendar mais sobre o amor, o sexo e as responsabilidades. Sem tempo para explicar detalhes aos desavisados, o roteiro de Steven Kloves confia no conhecimento dos fãs e se permite construir com sutileza a relação entre a breve, porém sofrida experiência dos protagonistas com atitudes bem mais maduras em seus relacionamentos pessoais. Nesse ponto reside a genialidade de J.K. Rowling que unindo fuga da realidade e trabalho em equipe, respeitou e acompanhou o amadurecimento de seu público. Isto fica bem simbolizado quando Dumbledore diz a Harry: mais uma vez, tenho que exigir demais de você; e a impressão é que esta é uma mensagem para o espectador. É hora de abandonar a realidade alternativa que afagou uma legião de fãs desesperados por uma cartinha de Hogwarts e assumir que todos precisam crescer: Harry, Rony, Hermione, J.K. Rowling e nós.
ESPAÇO
Mesmo com alguns excessos de sutilezas em cenas que pediam um pouco mais de drama (você vai saber de que momento estou falando), Harry Potter e o Enigma do Príncipe é um belo filme com atuações maduras e entrosadas, trabalho técnico impecável, magnífica fotografia, mas que assim como em O Senhor dos Anéis, vai se encontrar, estou certo, no último capítulo. E a gente se vê lá.
ESPAÇO

:) VOCÊ NEM VAI PISCAR se amadureceu junto com a série.
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;( É MELHOR VOCÊ DORMIR se esperava só mais brincadeiras com a varinha.
ESPAÇO

Por Gustavo Mineiro
Publicitário e palpiteiro em cinema.

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domingo, 12 de julho de 2009

A ERA DO GELO 3D

- NOTA: 8,0
Título Original: Ice Age: Dawn of the Dinosaurs
Direção e Roteiro: Carlos Saldanha

ESPAÇO
Sem dúvida, o trabalho de maior repercussão da Blue Sky Studios é a franquia “A Era do Gelo” (Quem se lembra de fiascos como “Robôs” ou “Horton e o mundo dos quem”?). Por isso, é natural e financeiramente saudável que o estúdio esgote todas as possibilidades de faturar em cima de Manny, Diego, Sid, Scrat e companhia, os mais carismáticos personagens da atual temporada de animações. Este carisma deu a confiança que o estúdio precisava para ousar e oferecer o capítulo mais divertido e criativo da série.
ESPAÇO
Scrat, o esquilo com transtorno obsessivo-compulsivo criado pelo brasileiro Carlos Saldanha, construiu desde o primeiro filme um capítulo a parte, tornando-se o cerne de diversão despretensiosa que cativou o público, enquanto os outros personagens ensaiavam temas como preconceito, diversidade e construção da amizade. Em “A Era do Gelo 3” até vemos algum drama: os mamutes Manny e Ellie vão ser pais, e por isso, o tigre Diego e a preguiça Sid sentem-se deslocados nesta nova família e decidem procurar a sua própria identidade animal. Mas pode esquecer: isso serve apenas como pretexto para que a aventura seja possível, levando-os a piadas divertidíssimas, várias referências pop, e um ritmo muito mais acelerado que nos dois primeiros filmes.
ESPAÇO
A novidade é a doninha Buck que vive num mundo jurássico no subsolo, preservado da extinção e atua como uma guia na jornada e também na redescoberta da identidade de cada personagem, pois é disso que trata o roteiro. Ao final da projeção, saí contente e certo de que “A Era do Gelo” também construiu sua identidade como uma franquia conhecida e reconhecida.

PS: Assisti a uma cópia em 3D e a tecnologia acrescenta pouco ao filme. Portanto, vá assistir sem dor de cotovelo. Você vai gostar.
ESPAÇO
ESPAÇO
:) VOCÊ NEM VAI PISCAR se gosta de diversão despretensiosa.

;( VOCÊ SÓ VAI DORMIR se for um infeliz de mal com a vida.

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JEAN CHARLES

- NOTA: 7,5
Título Original: Jean Charles
Direção: Henrique Goldman
Roteiro: Henrique Goldman
Elenco: Vanessa Giácomo, Selton Mello, Sidney Magal

Diferenças conceituais marcaram a pré-produção de “Jean Charles”, a história do brasileiro que, confundido com um terrorista, foi assassinado por policiais ingleses no metrô de Londres. A BBC convidou Fernando Meireles para tocar um filme policial baseado no acontecido, enquanto o diretor e roteirista Henrique Goldman preferia explorar a identidade de Jean Charles e a comunidade brasileira existente em Londres. Meireles não aceitou a proposta e Goldman venceu a parada. O cinema é que perdeu um pouco.
ESPAÇO
Vindo de documentários, Goldman ficou no meio termo entre esta linguagem e a de longa-metragem. A opção em deixar os atores sem script, apenas indicando a situação e deixando que eles desenvolvessem a cena deixa o filme, nesse caso, sem vigor. Conquistar o realismo é essencial em obras como “Jean Charles”, no entanto, o ritmo é o que diferencia um filme da vida real. E o filme tem que ser mais interessante.
ESPAÇO
Por outro lado, o foco no micronúcleo de Jean e seus amigos explora a angústia individual e os “perrengues” por que passam os brasileiros no exterior. Acho isso extremamente válido. A nossa própria vizinhança assusta muito menos do que os tablóides internacionais fazem o mundo crer. E é essa abordagem que dá a Vanessa Giácomo a oportunidade de protagonizar o filme. O começo numa terra estranha, as primeiras dificuldades, as primeiras conquistas e o deslumbramento com as possibilidades que o mundo oferece são mais fortes que o medo. Ponto para Goldman que escolheu fazer um filme sobre coragem.


:) VOCÊ NEM VAI PISCAR se sonha em vencer no exterior.

;( É MELHOR DORMIR se você também sonha em vencer no exterior.
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

A MULHER INVISÍVEL

- NOTA: 6,0
Cláudio Torres já demonstrava interesse em temas complexos em seu filme de estréia “Redentor” que, apesar de ousado, atirava para todos os lados e não dizia a que veio. Já em “A Mulher Invisível”, o roteirista/diretor se contentou com menos, bem menos, talvez pouco demais.
ESPAÇO
Apostando na fantasia, que está em alta no cinema nacional desde a franquia de sucesso “Se eu fosse você”, Torres conta a história de Pedro (Selton Melo), que em depressão após o pé na bunda que levou da esposa, começa a namorar Amanda (Piovani), que entende de futebol, não reclama de bagunça e aceita traição, ou seja, é perfeita. A ironia é que só ele consegue vê-la. A ideia é poética e não se apóia em explicações místicas como em “Se eu fosse você”. Pode ser encarada como uma representação metafórica da idealização do parceiro ou meramente justificada como um surto mental de um homem deprimido. Mas se situações absurdas são comuns a qualquer mente humana, faltou realidade para que A Mulher Invisível fosse um filme excelente.
ESPAÇO
Torres se entrega a situações artificiais e personagens unidimensais, e o próprio Selton Melo, por várias vezes brilhante no recente cinema nacional, abusa de sua certeza de que sabe fazer rir, mas como ator, não como personagem. Não conseguimos conhecer Pedro, que reage às situações como um excelente comediante, mas nunca como um ser humano realmente complexo. Pra piorar, Torres gasta tempo demais tentando nos fazer rir e pouco para elaborar a relação de amor que fecha a narrativa, soando extremamente superficial. Num filme que se propõe a elucubrar sobre a descoberta do amor próprio, é grave que apenas uma noite de sexo baste para que Pedro encontre o amor da sua vida. Ainda assim, vá conferir. Fernanda Torres, a melhor atriz de comédia do país se faz visível até como figurante.


INDICATO PARA quem você gosta do Selton Melo.

CONTRA-INDICADO PARA quem não gosta de forçadas de barra.

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O EXTERMINADOR DO FUTURO, A SALVAÇÃO

- NOTA: 7,5

A franquia de sucesso “O Exterminador do Futuro” nunca se preocupou em aprofundar suas reflexões sobre o impacto do mau uso tecnológico na vida humana. O que não é problema algum já que a série se assume como entretenimento. E dos bons (A filosofia fica por conta de Matrix). Só que a cada “I’ll be back” de Arnold Schwarzenegger, crescia a expectativa de um futuro devastador que até então só víamos nos pesadelos de Sarah Connor. E esta sequência “O Exterminador do Futuro: A Salvação” não cumpre a profecia.

Ação de tirar o fôlego, efeitos impressionantes e orçamento nas alturas: está tudo lá. Mas o filme que finalmente traria à tona o juízo final ensaiado nos seus antecessores, não justifica, não surpreende e tão pouco marca a série, somando-se ao também morno “O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas” como mais uma oportunidade de encher os bolsos dos produtores, enquanto o capítulo final não vem (A Warner já confirmou a produção do 5º filme). Li numa entrevista que McG, diretor do longa, quis realizar um filme que despertasse as mesmas sensações que ele havia experimentado em “O Exterminador do Futuro 2”, vencedor de 4 Oscars e que por sinal é excelente. Passou longe.

Esta sequência traz John Connor adulto (Christian Bale), liderando a resistência humana num mundo já destruído pelo domínio das máquinas (que parecem inclusive, ter escrito o roteiro). Sem tempo para apresentar os personagens, o filme não permite que criemos afeição por eles, o que é grave quando o único que conhecemos é Connor, num rosto diferente e interpretado de maneira mecânica por Christian Bale, que só se põe a esbravejar e fazer cara de mau. A grata surpresa é Sam Worthington (Marcus Wright), personagem que abre o longa sofrendo pena-de-morte no nosso tempo, e acordando anos depois no mundo pós-apocalipse. Com uma atuação interessante, Wright não consegue fazer milagre já que roteiro e direção ofendem a inteligência do espectador ao dar uma importância exagerada para uma “revelação” que se faz previsível desde os primeiros minutos. Wright cumpre a missão que antes era de Schwarzenegger: despertar a compaixão que nos diferencia das máquinas. Mas aí reside o problema. Numa tentativa de aprofundar o tema máquina x homem, o filme fica no raso de suas convicções com a frase tema: “o que nos diferencia é a força do coração”. A frase é uma verdade e fecharia bem o filme se ele realmente desenvolvesse essa idéia em suas duas horas de projeção e não a usasse apenas como um epitáfio.

A proposta de mostrar o que de máquina tem em nós e o que de humano pode ter numa máquina é interessante, mas fica a restrita a episódios isolados como na cena em que vemos uma tentativa de estupro entre humanos. Lotado de narrações para completar o que as ações não conseguiram traduzir, “O Exterminador do Futuro – A Salvação” serve aos fãs da série como um último gole que pede uma saideira. E por isso, torço para que na próxima vez, a série ganhe o fechamento devastador que merece.


INDICATO PARA: quem gosta de surpresas visuais.

CONTRA-INDICADO PARA: quem não gosta de roteiros previsíveis.


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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nicolas Cage no elenco: um mau "Presságio"?

Felizmente não. Presságio, que estreou em Abril desse ano, traz todos os ingredientes de uma obra apocalíptica: suspense, medo, ação e moral. Só que dessa vez, não economizou em coragem. Dirigido com segurança por Alex Proyas (Cidade das Sombras), o filme começa com ares de terror clichê ao personificar o mistério em uma criança (O Iluminado, A Profecia), que num trabalho de colégio deveria fazer um desenho mostrando como imaginava o mundo dali a 50 anos. Aparentemente possuída, Lucinda só escreve números e quando impedida de continuar, arranha os números faltantes numa porta, até sangrar. Estes desenhos são guardados numa urna do tempo que meio século depois é aberta.
ESPAÇO

A carta de Lucinda vai parar nas mãos de Caleb, filho do professor de astrofísica John Koestler (Cage). Pulando a fase do ceticismo, que já não funciona para o público em filmes desse tipo, John e sua curiosidade científica encontram rapidamente um significado para o amontoado de números: são datas, horários, latitudes, longitudes e número de vítimas das maiores tragédias da humanidade nas últimas décadas. E o mais assustador: três dessas datas ainda estão por vir.


ESPAÇO

Sem a histeria heróica naturalmente americana, Cage acha o tom certo entre pavor e curiosidade, natural de qualquer ser humano consciente em uma situação como essa. E quando percebe que seu filho está diretamente envolvido no mistério, já que está sendo perseguido por estranhos homens de preto, a busca por explicações ganha fôlego de thriller que em nada vai desapontar os espectadores mais lineares. Digo isso, porque apesar de suas chocantes cenas de ação e suspense (o acidente de avião é algo incrível e aterrorizante), Presságio vai muito mais fundo na questão da fé, sem no entanto, tentar catequizar ninguém. E é isso que o torna diferente de tantos outros filmes que navegaram no raso de suas convicções.

ESPAÇO

O pensamento humano é linear, ou seja, precisa de começo, meio e fim. E quando nos deparamos com algo além de nossa compreensão, o instinto de auto-preservação é automático. Questionamos, duvidamos e lutamos até o fim para protegermos a nós mesmos e a quem amamos. Em Presságio não é diferente. Durante duas horas, o raciocínio do filme e do protagonista acompanha o nosso, que só queremos entender o que está acontecendo. E só quando somos tomados pela frustração de que o fim será inevitável, é que nos abrimos para a redenção, como aquela que um dia experimentaremos em nossa última unção. Presságio é corajoso ao estabelecer esta nova relação entre fim e recomeço, (assim como o surreal Fonte da Vida), deixar o egocentrismo antropocêntrico de lado e abrir uma reflexão profunda sobre a nossa real importância. Uma cena em particular, representa bem esta intenção. Ao seqüestrar as crianças, os “homens de preto” deixam pedras no lugar, como uma moeda de troca e uma clara relação entre o nosso valor e o de qualquer outro elemento da natureza, mesmo os que para nós, pareçam sem vida. É com esse gostinho amargo que saímos do cinema, mas que, como qualquer remédio, vem com a missão de curar nosso individualismo e nos preparar para tempos difíceis que, eu creio, estão por vir. Até nesse momento, será preciso manter a Fé, e acreditar que (repetindo as palavras que Caleb diz para seu pai): Tudo vai ficar bem.
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PRESSÁGIO. Nota: 9,0
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TEM UMA FRASE QUE DIZ:

Aquele que tem ciência e arte tem também religião; o que não tem nenhuma delas que tenha religião!

Goethe (Escritor - 1832)

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