
ESPAÇO
A carta de Lucinda vai parar nas mãos de Caleb, filho do professor de astrofísica John Koestler (Cage). Pulando a fase do ceticismo, que já não funciona para o público em filmes desse tipo, John e sua curiosidade científica encontram rapidamente um significado para o amontoado de números: são datas, horários, latitudes, longitudes e número de vítimas das maiores tragédias da humanidade nas últimas décadas. E o mais assustador: três dessas datas ainda estão por vir.
ESPAÇO
Sem a histeria heróica naturalmente americana, Cage acha o tom certo entre pavor e curiosidade, natural de qualquer ser humano consciente em uma situação como essa. E quando percebe que seu filho está diretamente envolvido no mistério, já que está sendo perseguido por estranhos homens de preto, a busca por explicações ganha fôlego de thriller que em nada vai desapontar os espectadores mais lineares. Digo isso, porque apesar de suas chocantes cenas de ação e suspense (o acidente de avião é algo incrível e aterrorizante), Presságio vai muito mais fundo na questão da fé, sem no entanto, tentar catequizar ninguém. E é isso que o torna diferente de tantos outros filmes que navegaram no raso de suas convicções.
ESPAÇO
O pensamento humano é linear, ou seja, precisa de começo, meio e fim. E quando nos deparamos com algo além de nossa compreensão, o instinto de auto-preservação é automático. Questionamos, duvidamos e lutamos até o fim para protegermos a nós mesmos e a quem amamos. Em Presságio não é diferente. Durante duas horas, o raciocínio do filme e do protagonista acompanha o nosso, que só queremos entender o que está acontecendo. E só quando somos tomados pela frustração de que o fim será inevitável, é que nos abrimos para a redenção, como aquela que um dia experimentaremos em nossa última unção. Presságio é corajoso ao estabelecer esta nova relação entre fim e recomeço, (assim como o surreal Fonte da Vida), deixar o egocentrismo antropocêntrico de lado e abrir uma reflexão profunda sobre a nossa real importância. Uma cena em particular, representa bem esta intenção. Ao seqüestrar as crianças, os “homens de preto” deixam pedras no lugar, como uma moeda de troca e uma clara relação entre o nosso valor e o de qualquer outro elemento da natureza, mesmo os que para nós, pareçam sem vida. É com esse gostinho amargo que saímos do cinema, mas que, como qualquer remédio, vem com a missão de curar nosso individualismo e nos preparar para tempos difíceis que, eu creio, estão por vir. Até nesse momento, será preciso manter a Fé, e acreditar que (repetindo as palavras que Caleb diz para seu pai): Tudo vai ficar bem.
ESPAÇO

ESPAÇO
_____________________________________________________